Nos últimos anos, houve um aumento significativo no número de violonistas dedicados ao instrumento, motivando-me a escrever este texto.
O 7 cordas tem suas raízes profundamente ligadas à Música Brasileira. Embora o instrumento possa ser encontrado em diferentes tradições ao redor do mundo, no Brasil, ele se estabeleceu como uma característica marcante de alguns gêneros musicais, em particular o Choro e o Samba.
Origens
A origem do violão de sete cordas no Brasil permanece envolta em mistério. As escassas fontes bibliográficas sobre o tema sugerem três possíveis explicações, embora nenhuma delas tenha sido definitivamente confirmada. Uma possibilidade é que o instrumento tenha sido trazido da França por um membro dos Oito Batutas; outra teoria sugere que um cigano russo que visitou o Rio de Janeiro poderia tê-lo introduzido; e uma terceira hipótese é que um músico, buscando notas mais graves, tenha solicitado a um luthier a criação do instrumento. Estas conjecturas são propostas por Remo Pellegrini:
“[…] acredita-se que alguns ciganos russos que freqüentavam a casa da Tia Ciata poderiam ter sido o elo do instrumento com a cultura brasileira. Há ainda hipóteses de que esse violão possa ter sido trazido da França por Arthur de Souza Nascimento (Tute) […] ou mesmo, que ele possa ter sido encomendado a algum luthier por um violonista que teria sentido a necessidade de notas mais graves que as do violão convencional” (PELLEGRINI, 2005, p. 43-44).
O violão de sete cordas surgiu no Brasil, principalmente, como ferramenta de acompanhamento, destacando-se nas rodas de Choro. A inclusão da sétima corda, usualmente afinada em Dó ou Si, confere ao instrumento uma riqueza e profundidade sonora distinta.
Os primeiros registros de sua utilização no cenário musical são vinculados a Otávio Littleton da Rocha Viana (1888 – 1927), irmão de Pixinguinha e popularmente conhecido como China, e também a Artur de Souza Nascimento (1886 – 1957), apelidado de Tute. Embora China e Tute tenham sido precursores, foi através de Horondino José da Silva (1918 – 2006), também conhecido como Dino Sete Cordas, que o violão de sete cordas firmou-se no cenário musical como instrumento de acompanhamento. (TABORDA, 1995; BRAGA, 2004).
Versatilidade
A adição da sétima corda traz ao violão uma capacidade expandida na produção dos baixos, as chamadas baixarias, que são essenciais no acompanhamento e na criação dos contrapontos nos mais diversos gêneros de Música Popular Brasileira.
Ao longo das décadas, o 7 cordas consolidou-se não apenas como um instrumento musical, mas como um símbolo de identidade cultural. Muitos dos grandes nomes da música brasileira, como, por exemplo, Maurício Carrilho e Carlinhos 7 Cordas, utilizam o instrumento para expressar uma das essências da Música Brasileira.
Escuta Musical
A escuta ativa das obras dos mestres do violão de 7 cordas é fundamental para qualquer aspirante ou apreciador deste instrumento. Imersos nas gravações destes artistas, podemos apreender nuances, técnicas e estilos que enriquecem a compreensão musical e formam uma base sólida para a própria prática instrumental.
Ao escutar os grandes nomes do violão de 7 cordas, aprendemos mais do que apenas melodias e harmonias. A escuta nos educa sobre fraseado, dinâmica, timbre e, acima de tudo, sobre o próprio instrumento.
Técnicas para criar uma Baixaria
A essência de uma baixaria reside no deslocamento melódico das notas graves dos acordes consecutivos. Esses deslocamentos podem se manifestar de formas diatônicas, cromáticas, através de arpejos e outras variantes. Vamos explorar alguns princípios teóricos e práticos básicos para a construção de uma baixaria.
Entendimento Harmônico: Antes de tudo, é essencial compreender a progressão harmônica da música. Saber quais acordes estão sendo usados e como eles se relacionam ajuda a formular linhas de baixo que se conectam logicamente e musicalmente. A melhor forma de fazer isso é “limpando a harmonia”, por exemplo:
Isso permite que você crie diferentes tipos de baixarias para a mesma sequência de acordes (com exceção das obrigações, já, já falamos disso):
Notas do acorde (Arpejos): Uma das formas mais simples e eficazes de criar uma baixaria é mover-se por notas do acorde (as notas da tríade e da tétrade). Esse tipo de movimento cria uma sensação fluida e conectada:
Escalas: Quando falamos sobre movimento diatônico, estamos nos referindo ao movimento entre as notas de uma escala sem desvios cromáticos, vejamos:
Cromatismo: Incorporar notas cromáticas (notas que não fazem parte da escala diatônica) pode adicionar cor e tensão à baixaria, conduzindo de forma interessante para o próximo acorde:
Ritmo: Embora a teoria das notas seja crucial, é fundamental considerar o ritmo. Variações rítmicas podem infundir vida na baixaria, tornando-a mais expressiva e cativante:
Baixarias de Obrigação: Estas são linhas melódicas (baixarias) que foram eternizadas em gravações ou especificadas pelo compositor para serem tocadas pelo violonista de 7 cordas. Tais frases tornaram-se referências esperadas durante a execução, atuando quase como uma assinatura melódica dentro da peça:
Algumas Frases
Lembre-se de transpor usando o ciclo de 5ªs e 4ªs, por exemplo:
Nota: As frases mencionadas são adequadas tanto para modos maiores quanto menores. Apenas certifique-se de alinhar a terça do acorde corretamente (terça maior para acordes maiores e terça menor para acordes menores). Além disso, no modo menor, a Escala Menor Harmônica é comumente usada, implicando uma 6ª menor.
Referências:
PELLEGRINI, Remo Tarazona. Análise dos Acompanhamentos de Dino Sete Cordas em Samba e Choro. São Paulo, 2005. Dissertação (Mestrado em Música). Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, 2005.
TABORDA, Márcia. Dino Sete Cordas e o Acompanhamento de Violão na Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro, 1995. Dissertação (Mestrado em Música). Escola de Música do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1995.
BRAGA, Luiz Otávio. O Violão de Sete Cordas. Rio de Janeiro: Editora Lumiar, 2004.