Criatividade é um tema em voga e muito explorado nos dias de hoje – e não é pra menos: a habilidade é tida como uma das dez habilidades do futuro nos renomados fóruns internacionais de Davos e da ONU. Mas, apesar da importância, a dúvida é outra: como as pessoas podem ter uma vida criativa?
Quando me refiro a pessoas, direciono meu questionamento a todas as pessoas, artistas ou não. Isso porque a criatividade passou décadas estigmatizada como uma capacidade possuída apenas aos que nasceram com algum “dom artístico”.
Mas hoje já se sabe que, assim como todos somos inteligentes, somos todos também criativos.
Como nasce a criatividade
Dentro do nosso cérebro, a criatividade acontece na intercomunicação de três áreas distintas: a rede de modo padrão, usada quando estamos tendo ideias ou simplesmente imaginando; a rede de controle executivo, ativada na tomada de decisões e avaliações de ideias; e a rede de saliência, usada para discernir quais ideias são relevantes e para facilitar a transição das ideias entre os modos padrão e executivo.
A rede de saliência é responsável por fazer a ponte entre as ideias obtidas e a validação destas. No entanto, na maioria das vezes a rede de modo padrão para de funcionar quando a rede de controle executivo está ativa – e vice-versa.
Uma pesquisa publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) indica que as pessoas mais criativas conseguem utilizar duas ou mais redes neurais ao mesmo tempo.
Em outras palavras, ao mesmo tempo que a ideia é formulada na rede de modo padrão, ela já está sendo avaliada pela rede de controle executivo, por exemplo. É como se as ideias encontrassem atalhos em nossas redes neurais e fossem se aprimorando quase que instantâneamente.
“O cérebro criativo está conectado de uma maneira diferente, e as pessoas criativas são mais capazes de ativar sistemas cerebrais que tipicamente não funcionam juntos.”, afirma Roger Beaty, líder da pesquisa e especialista em neurociência cognitiva pela Universidade Harvard.
A pesquisa só confirma uma hipótese que vem sendo alimentada há muito tempo: a de que é possível treinar o nosso cérebro para viver uma vida criativa.
7 passos para a vida criativa
1. Estude em busca de novos conhecimentos
O primeiro passo de qualquer treinamento é saber como mexer com o músculo adormecido – no caso, o nosso cérebro. Aprender algo novo é, sem dúvida, a melhor forma de exercitar a nossa habilidade criativa.
No entanto, não adianta muito você escolher estudar alguma área do conhecimento que já domina. Por exemplo, se você é um engenheiro mecânico, estudar a maneira como funciona o motor de um novo carro não te tornará mais criativo. O ideal é escolher uma área do conhecimento diferente da sua.
O segredo aqui é forçar o seu cérebro a se exercitar. Queimar a caixola mesmo, se esforçar para aprender algo novo. Se a tarefa parecer muito difícil, melhor ainda – é sinal de que, em algum momento, novas ligações entre as suas redes neurais ocorrerão.
Aqui na Têmpora Criativa nós acreditamos que arte e criatividade estão mais do que interligadas e incentivamos todos a participarem dos nossos cursos, oficinas e bate-papos. Confira a nossa agenda e participe das nossas próximas atividades.
2. Faça pausas durante o trabalho
Todo exercício precisa de um momento de descanso, de respiro para que nosso corpo não entre em colapso – e o mesmo acontece com a nossa mente. Apesar da valorização da criatividade no ambiente de trabalho, ninguém consegue ser criativo o tempo inteiro.
Mesmo que sua profissão não esteja diretamente à criatividade, as pausas durante o trabalho são fundamentais para “liberar” espaço no seu cérebro e te deixar apto a resolver problemas, lidar com situações adversas e ter novas ideias.
Existem várias técnicas de pausas durante o trabalho. Uma das mais conhecidas é a técnica Pomodoro. Nela, você segue ciclos de trabalho e descanso, marcados por um cronômetro.
Os intervalos mais utilizados são 25min de trabalho e 5min de descanso; após 4 ciclos de trabalho completos, há um descanso maior, de 20min. Você pode mudar os intervalos de trabalho e descanso até descobrir qual se adapta melhor ao seu ritmo de trabalho.
Você também pode incluir recompensas nos intervalos ou na conclusão do trabalho – como uma olhadela na timeline, uma xícara de café, um chamego no bichinho de estimação, uma caminhada pelos cômodos, alguns alongamentos, um docinho por concluir o trabalho, etc.
Além do respiro para a criatividade, os intervalos te ajudam a manter o foco e a acelerar o trabalho que você está desenvolvendo.
3. Mantenha-se cercado por pessoas criativas
Ser criativo em grupo é muito melhor do que ser criativo sozinho. Quando você tem contato com um grupo de pessoas criativas que estão em busca das mesmas coisas que você, é mais fácil manter a chama da vida criativa acessa.
Manter-se cercado por pessoas criativas não significa cerca-se apenas de forma física – apesar das experiências de grupos presenciais de escrita criativa, por exemplo, serem muito proveitosas.
Ao fazer parte de um grupo de pessoas variadas pode ser um grande incentivo e uma boa fonte de ideias para a sua criatividade. Lembre-se que isso é diferente de pedir a opinião dos amigos ou parentes sobre algo. A relação com essas pessoas muitas vezes é distante no âmbito social, mas muito próxima na busca por respostas cotidianas.
4. Reserve um tempo criativo só seu
Como tudo precisa de equilíbrio, onde é necessário barulho, é necessário também o silêncio. Reservar um tempo criativo só seu talvez seja a tarefa mais difícil nos dias de hoje.
Sim, um tempo só seu. Não seu com a sua família ou seu com os seus amigos.Ou ainda seu com o seu trabalho criativo.
Desligue-se tudo e afasta-se de todos. Agora se pergunte: o que eu farei para alimentar a minha criatividade na próxima hora? Talvez seja uma caminhada pelo bairro. Quem saber ver um filme que ninguém quer ver com você. Ou ouvir o novo disco do seu artista favorito que ninguém mais gosta. Ou cantar, tocar violão, fazer manchas de tinta no papel, escrever poesias, dançar, contemplar as árvores, as flores.
Se o estudo é o exercício, a atividade particular é o alongamento da vida criativa. Você não quer crescer, nem ser melhor ou mais inteligente fazendo o que quer que escolha; você só quer fazer. Quer ser livre. Não quer fazer sentido, quer sentir.
O tempo que você conseguir reservar está ótimo. Julia Cameron, autora do livro O Caminho do Artista, fala em 1h por semana, mas sejamos francos: nem sempre dá tempo. 15min já são o suficiente para uma boa caminhada, uns passos inventados de dança ou uma música cantada com todo o coração.
5. Compartilhe o seu conhecimento
Compartilhar conhecimento é uma das melhores formas de manter a vida criativa.
Enquanto aprendizes, nós ainda não somos capazes de organizar o que estamos aprendendo, mas quando nos tornamos professores, somos obrigados a organizar as nossas ideias e repensá-las de uma maneira que faça sentido ao outro – nosso aluno, nosso leitor, nosso espectador, nosso ouvinte, etc.
Com tantos meios de comunicação, chega a ser deselegante se posicionar como um especialista sem compartilhar conhecimento algum de graça. Por isso nós incentivamos que todos os professores, em algum momento, contem um pouquinho do que sabem em suas redes sociais, contribuindo para a troca de experiências e a conquista de novos alunos.
E se você quiser ir além das redes, nosso espaço está disponível para cursos, oficinas, bate-papos, palestras, lançamentos de livros, exibições, exposições e quaisquer outras ideias que você tenha relacionada à arte e à criatividade.
Aqui Têmpora Criativa nosso objetivo é unir pessoas que têm algo para ensinar com pessoas que querem aprender.
6. Desconfie dos limites auto impostos
Achar que você atingiu o nível máximo em qualquer área é uma receita pronta para estagnar a sua vida criativa. Segundo a autora do livro Mindset, Carol S. Dweck, isso tem um nome: mindset fixo.
Em seu livro, ela explica que o mindset de crescimento é o mais adequado para quem quer evoluir como pessoa – e com a criatividade não podia ser diferente.
Parece óbvio dizer, mas ficar parado não combinada nada com ser criativo. No entanto, no dia a dia, nem sempre percebemos isso. Nosso cérebro gosta de economizar energia, identificando e repetindo padrões com muito mais facilidade do que aprende coisas novas.
Em outras palavras, é natural nos colocarmos limites e acharmos que atingimos o topo da montanha do que reconhecer que, se nos esforçarmos mais, poderemos chegar ainda mais alto.
7. Aproveite o processo sem se preocupar com o resultado
A criatividade verdadeira está no processo e não no resultado. É quando estamos criando – e não ao concluirmos – que a criatividade acontece.
No entanto, por estarmos tão preocupados com o resultado das nossas ações, muitas vezes ignoramos o prazer de simplesmente criar algo.
Seja no trabalho, seja por lazer, criar é um ato que pode ser executado por todos nós. Criar uma ideia e sentir-se orgulhoso dela está em um âmbito diferente de aprovação social ou aplicabilidade.
Quando você cria, você está no comando, mesmo que por um breve período de tempo.
Levar uma vida criativa significa ter muitas ideias – muitas mesmo! –, a maioria delas muito ruins e apenas algumas boas. Porém, as ideias boas só aparecem quando você tira as ruins do caminho.
O segredo para ver as pérolas surgindo é tirar toda a sujeira antes, aproveitando o processo sem julgar qualidade ou validade.
Por uma vida mais criativa em tempos de inteligência artificial
Se por um lado há o medo que a inteligência artificial extinga várias profissões, por outro há a urgência de que desenvolvamos habilidades cada vez mais humanas – entre elas, a criatividade.
Em outras palavras, o futuro será sobre as pessoas.
A nossa capacidade de criar laços profundos é o que nos diferenciará das máquinas – e isso vale para qualquer profissão. Viver uma vida criativa é fundamental não só para ter novas ideias, mas também para encontrar as melhores soluções para os problemas.
Ao invés de ver o futuro com desconfiança, enxergue nele a oportunidade de ser mais autêntico e deixar a sua marca. Estude tudo que sempre teve vontade de estudar, desenvolva suas redes neurais e encontre um tempo só pra você sem medo de estar sendo egoísta ou superficial.
Assim como somos todos criativos, também somos todos artistas – basta descobrir qual é a arte que te chama e investir nela.