Um arranjo musical é algo único.
Pense em um arranjo de flores. Certamente você deve estar imaginando uma combinação específica de flores e folhagens (esse é seu material), bem como a disposição de cada uma em um vaso ou, quem sabe, amarradas por uma fita vermelha (esse é o seu acabamento). Pois bem, esse seu arranjo é único e só seu; uma outra pessoa certamente irá montá-lo de outra maneira.
Quando estamos preparando e ou adaptando uma composição musical (já escrita, pronta) e a apresentamos de outra maneira que não a original, estamos arranjando. Fazer um arranjo nada mais é do que dar uma cara nova para um tema ou uma canção, por exemplo.
Aquele arranjo carrega consigo nossas memórias musicais.
Agora pense em uma canção famosa, como por exemplo, Yesterday, dos Beatles, ou Garota de Ipanema, de Tom Jobim. Estas são músicas que possuem uma quantidade muito grande de versões, cada uma apresentando um arranjo diferente. Tenho certeza de que você deve ter sua versão preferida, e, por vezes, já ouviu uma versão que não te agradou muito. Isso acontece por inúmeros motivos, mas um, em especial, é por causa do arranjo. A cada nova versão, estamos um pouco mais afastados da nossa memória musical afetiva, ou seja, aquela memória que você tem do arranjo que ouviu pela primeira vez.
As Técnicas e o feedback
Arranjar é uma arte que requer técnica e muita prática, além de bom ouvido musical, é claro. Sempre que você elaborar um arranjo, compartilhe-o com seus colegas ou orientadores — o feedback é sempre bem vindo e pode te ajudar muito em trabalhos futuros. Procure por ajuda de pessoas aptas para te auxiliar.
Um arranjo musical pode contemplar diferentes características em sua elaboração. Você pode usar técnicas específicas de rearmonização; fazer mudanças na forma musical; mudar as alturas, timbres, enfim criar e recriar a vontade.
Toda composição é um arranjo e nem todo arranjo é uma composição.
Quando um compositor está criando sua obra ele está arranjando, elaborando e moldando o material escolhido. Muitas bandas têm o costume de elaborar todo o arranjo de uma composição antes de entrarem em um estúdio e gravar, ou seja, é basicamente um processo conjunto de construção musical.
Entretanto, o arranjador profissional pode simplesmente “pegar” o tema (geralmente uma melodia) e criar algo totalmente novo, ou seja, é o processo criativo de uma única pessoa. Inclusive muitos arranjadores não são compositores propriamente ditos, embora saibam trabalhar com o material composto de forma brilhante.
O que preciso estudar para fazer um arranjo musical?
Um bom arranjador deve conhecer, estudar e dominar, sempre que possível, cada um dos seguintes itens:
Harmonia
Conhecer Harmonia é o fundamento básico para um arranjador. É através das elaborações harmônicas, seus usos e funções que você vai dar uma cara única para seu arranjo.
Forma e estrutura musical
Conhecer as formas clássicas e as mais comuns irá te auxiliar a dar aquele start ou, quem sabe, a fazer um acabamento incrível. Além disso, pode ser o que dará uma cara nova para um tema, ou ainda direcionar a audição do seu público.
Instrumentação e Orquestração
Conhecer os instrumentos, suas extensões e suas combinações é muito importante, afinal, o timbre tem um papel fundamental na nossa escuta musical. O uso de determinados instrumentos, bem como a disposição utilizada no arranjo dão caráter ao arranjo, bem como remetem a características específicas de alguns gêneros e formas musicais.
Textura Musical
A textura é o que define a sonoridade do arranjo num todo, é como você quer que soe a obra. Pode ser uma melodia acompanhada, um arranjo homofônico — em que todas as vozes caminham juntas — ou quem sabe é polifônico — com as vozes trabalhando contrapontisticamente.
Além disso o arranjador deve ter em mente outros fatores importantes para que seu arranjo funcione:
Quem são os intérpretes?
Seu arranjo não vai funcionar caso você escreva algo muito simples para um grupo avançado ou algo muito elaborado para um grupo iniciante. Procure por equilíbrio.
Público-alvo e finalidade
Conheça o seu público. Para quem ou o que é o arranjo? Uma fábrica de papel higiênico? Uma festa de aniversário? Ou seu arranjo é para uma apresentação de fim de ano?
4 pilares antes de começar
Conheça a música que você quer arranjar
Estude-a por completo, ouça algumas versões da obra e anote as principais ideias. Você pode utilizá-las caso ache necessário, ou pode tomá-las como base para fazer tudo ao contrário. Procure ter referências teóricas e conhecer o trabalho de outros arranjadores.
Harmonia e Melodia
Para poder criar e recriar, você vai precisar, antes de começar, ao menos ter a melodia e harmonia da música a ser arranjada. Com isso em mãos você vai ter um ponto de partida; daí em diante é só deixar sua criatividade tomar conta dos 99% de transpiração.
Forma e Estrutura
Eu sei que já falei sobre isso agorinha pouco, mas nunca é demais reforçar que compreender a forma e a estrutura original da obra é o que te dá a segurança necessária para você poder montar seu arranjo ou mesmo mudar a forma musical.
Plano de trabalho ou de arranjo
Por vezes, começar a fazer qualquer trabalho criativo requer planejamento. Saber onde se quer chegar pode ser mais fácil realizando alguns procedimentos básicos como, por exemplo:
- Fazendo uma análise das macros e micros estruturas da obra;
- Escolhendo previamente os instrumentos que irão fazer os solos, os acompanhamentos, entre outros;
- Esboçando, em suas anotações, quais são as técnicas que você pretende utilizar.
É chegada a hora de pôr a mão na massa!
Tenho certeza de que se você chegou até aqui e seguiu as recomendações anteriores já está apto para começar a criar seus futuros arranjos. Por isso, vou apenas descrever alguns procedimentos bem comuns que são muito utilizados por grandes arranjadores ao redor do mundo.
Inicie realizando a preparação da partitura. Procure deixar a grade o mais completa possível. Visualizar o todo pode ser muito útil. Em seguida, coloque na pauta a melodia e a harmonia; deixe para fazer por último a introdução e o final.
Agora, pegue suas anotações e coloque em prática as ideias que você já tem prontas. Lembre-se de utilizar técnicas diferentes e variar os solistas. Para o Final e a Coda procure (se possível) fazer uma variação. Você pode também, quem sabe, criar uma introdução para o seu arranjo.
Lapidando seu arranjo
As últimas dicas deste post são como quatro pequenos diamantes já bem polidos e lapidados, que precisam estar sempre retornando a sua memória para deixar seu arranjo ainda melhor.
Lembre-se:
Economizar na textura e densidade do arranjo é fundamental. Quando todos tocam o tempo todo o arranjo fica maçante e previsível, portanto nem todos precisam tocar o tempo todo. Lembre-se de utilizar as dinâmicas e as articulações específicas de cada instrumento.
Uma passagem pode ser um pouco mais complicada de ser executada, ou ainda ser muito monótona. Por isso é interessante pensar que coisas iguais costumam ser tocadas de jeitos diferentes e coisas diferentes costumam ser tocadas de um jeito igual — isso vale para famílias de instrumentos, ou seja, para as funções desempenhadas, os papéis de cada um dos instrumentos no arranjo.
E, por fim, mas não menos importante: vale ressaltar mais uma vez que a formatação e a edição da partitura são processos muito importantes, tão importantes quanto o arranjo em si.
Caso você tenha interesse em estudar orquestração e arranjo, composição e outras coisas relacionadas à música, ou quem sabe, encomendar obras, basta entrar em contato conosco.